Péricles de Queiroz

Retrato do Poeta Péricles de Queiroz: Fonte: Imagem disponibilizada pela prefeitura municipal. Data: Não Consta.

Ser poeta é um exercício de amor. Jorge Amado dizia que “A poesia não está nos versos, por vezes ela está no coração. E é tamanha. A ponto de não caber nas palavras.” É modesta por natureza, mesmo na riqueza de cada ornamento que a compõe, por este motivo, lembrava Coralina, “Poeta é ser ambicioso, insatisfeito, procuando no jogo das palavras, no imprevisto do texto, atingir a perfeição inalcançavel.” Mas ao mesmo tempo é conciente, pois “O autêntico sabe que jamais chegará ao prêmio Nobel. O medíocre se acredita sempre perto dele.”

Poetizar a vida é um ato de dar sentido mais pleno a existência. É encarnar-se na realidade, ao mesmo tempo que saindo dela. É lidar com as dores de modo particular, como Coralina ao dizer que “Entre pedras que me esmagavam, levantei a pedra rude dos meus versos.” Poesia se constrói no sentimento, nos dolorosos e nos felizes.

Rio Pomba foi, e permanece sendo, berço que embala bons e grandes poetas. Dentre estes, o mais famoso foi Péricles de Queiroz. Era filho de Dr. Urbano de Queiroz e Dona Regina da Cunha de Queiroz. Na juventude já demonstrava seu talento espontâneo para a escrita. Nas coisas corriqueiras da vida, que a nós mortais passa de maneira tão despercebida, Péricles retirava substância para sua escrita. Nas “Crônicas da Semana”, no jornal O Imparcial ele escrevia, sob o pseudônimo de Plauto, as coisas que vivia em nosso município. Contatos e lugares que frequentava se transformavam em versos que pigmentavam o papel.

Péricles esteve, também, presente na vida política. Em dois momentos esteve a frente da prefeitura interinamente. Substituiu os prefeitos Dr. José Campos e o Dr. Último de Carvalho. Atuou, ainda, na educação, como inspetor escolar. Cargo que ocupou por muitos anos.

Em sua vida de homem público, são marcas de seu trabalho o zelo e a diligência para com as coisas da comunidade. Foram 33 anos de serviço dedicado ao município de Rio Pomba. Era, por este, e outros tantos motivo, muito respeitado.

Os poetas nunca morrem

A morte, na velhice ou na juventude, sempre chega cedo de mais. Arranca, de solavanco, a certeza de quem daria mais uma palavra, um bom dia que fosse. “A morte chega cedo” professava Fernando Pessoa em seu poema. “A morte chega cedo, pois breve é todo a vida. O instante é o arremedo de uma coisa perdida.” Foi este sentimento de brevitude que tomou o coração dos amigos rio-pombenses, que acorreram para despedir do amigo Péricles de Queiroz.

O Imparcial, jornal de grande importância na vida deste nosso poeta, publicava o Poema Negro, de Augusto dos Anjos:

É a Morte – essa carnívora assanhada –
Serpente má de língua envenenada
Que tudo que acha no caminho come…

– Faminta e atra mulherr que, 1 de janeiro,
Sai para assassinar o mundo inteiro,
E o mundo inteiro não lhe mata a fome!

Expressava tal poema a dor e o inconformismo que inicialmente toma conta de quem se despede. Mas a beleza é perceber que poetas nunca morrem, pois na arte se imortalizam. Poetas deixam ao mundo o seu legado. E assim proclamava Alcânio Cesar na despedida de Péricles:

– Juntou-se aos Imortais que, alhures há.
Mas memória legou, perpetuada,
Nas mil estrofes que esqueceu por cá…

E, talvez, o próprio Péricles de Queiroz pudesse responder aos amigos, por meio do poema Depois:

Quando o sino tocar minha saída para o
reino das sombras do nada, serei, talvez,
qualquer coisa esquecida de uma lenda
qualquer abandonada


Mas tudo o que escrevi e escrevo, e em
cada verso hão de ver minha alma
refletida…

Ora cantando as cores da alvorada ora
as cores do luar, magoando a vida.


Assim eu partirei, qual tanta gente
saudoso, embora, mas um pouco crente, no
sonho triste que é a felicidade


Deixar, quando morrer, qualquer motivo
que conserve o meu nome redivivo
na áurea flama votiva da saudade

    

Gratidão do Município:

A cidade de Rio Pomba, cuidando de demonstrar gratidão a Péricles de Queiroz pelo legado deixado, homenageou-o com um busto, inaugurado no ano de 1967, contando com a presença de sua esposa Darcília da Silva Queiroz. Na placa dizia

Outra importante homenagem feita pelo município de Rio Pomba ao ilustre poeta, foi a dedicação de uma biblioteca ao seu nome. A biblioteca Poeta Péricles de Queiroz se situa em área privilegiada do município, na Avenida Dr. José Neves, região central da cidade. É um espaço amplo, bonito, agradável e preparado para receber os eventos culturais do município.

Centro Cultural e Biblioteca Poeta Péricles de Queiroz. Fonte: https://www.minasgerais.com.br/pt/atracoes/rio-pomba/biblioteca-municipal-poeta-pericles-de-queiroz Data: 23/06/2021

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FERREIRA , Roberto Nogueira “Cem anos Luz, O Imparcial: 1896/1996; um jornal, um jornalista, uma cidade”, Ed. R. N Ferreira, Brasília 1996.O Imparcial – Edição comemorativa de 90 anos, Gráfica “O Imparcial” 1996.

SANTIAGO, Sinval Batista. História do Município de Rio Pomba. 2.ed. Rio Pomba: Município de Rio Pomba, 2016.

FUNDAÇÃO, Casa de Jorge Amado. Página no Facebook. Disponível em https://www.facebook.com/fundacaojorgeamado/ acessado em 23/11/2021

CORALINA, Cora. Vintém de Cobre: Meias confissões de Aninha. 5ª Ed.- São Paulo: Global, 1995.

PESSOA, Fernando. A morte chega cedo. Arquivo pessoal. Obra Édita. Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/2254 acessado em 23/11/2021