Estação Ferroviária

Um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade nos idos do século XIX foram a questão do transporte de produtos e a ligação entre variadas regiões. As ferrovias surgem, justamente, como resposta a este problema. Marco significativo do progresso humano e tecnológico, que tanto inspirou o século da Revolução Industrial, as locomotivas e seus trilhos, que rasgavam o solo, surgiram no berço revolucionário, nas cidades referências do processo da industrialização: Liverpool e Manchester, na Inglaterra.

Estação Ferroviária de Rio Pomba e Leopoldina Railway. 1925. Autor Desconhecido. Acerto do Museu Histórico de Rio Pomba.

Em 1830 inaugurava-se, na Inglaterra, a primeira estrada de ferro. No Brasil, estas gigantescas máquinas chegaram por intermédio de Irineu Evangelista de Souza, o futuro Barão de Mauá, no ano de 1854. Em Rio Pomba, chegaram no ano de 1886, com um ramal ligando Guarani a Rio Pomba. A celebração de inauguração contou com a presença do próprio imperador D. Pedro II e ilustres figuras da corte.

Estrada de Ferro Leopoldina e o Café

O objetivo da ampliação da malha ferroviária na Zona da Mata, no século XIX, era o de buscar saídas para a questão do transporte de mercadorias, especialmente o café. Neste sentido as linhas férreas seguiram os caminhos da produção cafeeira e as regiões menos produtivas da província ficaram padecendo com a ausência, ou baixo número de transporte.

A crítica do sulista Benito Valadares expressa bem o caráter particularista da expansão das linhas férreas na Zona da Mata, de que ao invés de se preocupar com a consolidação de um plano de integração provincial a preocupação recorrente era a de levar “uma estrada de ferro a porta de cada fazendeiro.” De fato, as outras regiões da província tinham suas razões de queixas. Entre os anos de 1884, 60% das linhas férreas da província mineira situavam-se aqui pelas redondezas da Zona da Mata.

A instalação da Estação Ferroviária em nossa cidade se deu na administração do Dr. Luciano Rangel de Azevedo, por meio de um contrato firmado entre a E. F. Leopoldina e Agostinho Adolfo de Souza. Estabelecia-se assim uma ligação ao tronco da Estrada de Ferro Leopoldina, pelo ramal de Guarani-Pomba.

O local e suas dificuldades

A “Ferro-Carril Pombense,” nos moldes da imagem ilustrativa, era um tipo de bonde puxado por burros muito comum no século XIX.
Crédito: Armando Pacheco/In: O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis, Editora Aurora)

O local de construção da Estação nos revela a força que a economia cafeeira representava naquele momento histórico. Construída fora das mediações centrais da cidade, em uma região com dificuldades de acesso (em função de fortes alagamentos no período chuvoso), objetivava atender aos interesses de fazendeiros locais que possuíam, ali próximo da futura Estação, uma máquina de limpar café. Nisso surgiram críticas, tanto de populares, como, de maneira bem expressiva, da imprensa, representada pelo jornal O Pombense.

Embora a localização fosse marcada por algumas dificuldades, acompanhou-se um acentuado progresso econômico nas mediações da Estação Ferroviária, como a criação do “Hotel da Estação”, comércios e a companhia “Ferro-Carril Pombense” de Thomé Borges dos Reis.

Declínio da linha férrea

Após muitas décadas de pleno funcionamento, o ramal ferroviário foi sendo esvaziado pelos governo federal, que cada vez mais investia nas rodovias como forma de integração entre as cidades e também como forma de transporte da produção nacional.

Pouco antes de sua renúncia, o presidente Jânio Quadros decretou a extinção dos ramais deficitários, João Goulart faz cumprir a decisão de seu antecessor e em novembro de 1962 o trem é forçado a parar. O deputado federal Último de Carvalho, intervindo na situação, conseguiu fazer com que a Maria Fumaça voltasse a trilhar seus caminhos, mas em 02 de dezembro daquele mesmo ano, o trem parou por falta de combustível.

“Aos trancos e barrancos,” o trem permaneceu funcionando até maio de 1964, quando na ditadura civil milita, no governo de Castelo Branco, a “Maria Fumaça” dá, assim, seu derradeiro apito.

A partir de 1981, o prédio da estação torna-se sede da Loja Maçônica da cidade.

Afeto e memória

A Estação Ferroviária, embora hoje desativada, permanece sendo um referencial da memória rio-pombense. Muitas pessoas mais velhas ainda conservam lembranças das brincadeiras, dos passeios felizes com a família e da curiosidade que aquela maquina, naturalmente, trazia.

Hoje em dia, a localização da antiga Estação continua a ser um espaço de congregação dos conviventes. Nos antigos caminhos por onde cruzavam trilhos e as pesadas rodas da locomotiva, agora circulam e correm crianças brincando de bola, ou de pique pega, vizinhos se reúnem a conversar sobre coisas banais e corriqueiras. A vida segue, e o monumento nos lembra o passado.


Referências

BLASENHEIM, Peter L. As ferrovias de Minas Gerais no século XIX Jounal Office: Institute Of Latim American Studies 1994. Trad. Anthony Lennard. Cambridge University Press. 1994.

BORGES, Barsanufo Gomides. Ferrovias e modernidade. Revista UFG. Ano XIII, n° 11. Dezembro de 2011

MENDONÇA, Sylvio Caiaffa. Aconteceu em Rio Pomba. Brasília : RN & Marini Editora, 2010

SANTIAGO, Sinval. História de Rio Pomba. 2 ed. Rio Pomba: Município de Rio Pomba, 2016.